Precarizar para poder privatizar: essa é a solução?
Não é de hoje que vemos em muitos órgãos governamentais a ideia que a privatização é a solução para a redução de custos para o cofre público e a chance de fato para criar sistemas mais eficientes e sustentáveis. Mas será que essa é a melhor opção?
Não iremos aqui defender ou pontuar qual a melhor opção pois irá de sentença para cada cabeça. Mas o intuito desta matéria é fazer pensar, refletir e agir de outra forma sobre esse assunto que aquece o meio político, econômico e social.
Atualmente no governo paulista, seja administração municipal ou estadual, a “chama” da privatização vem criando força e de fato vem acontecendo em suas delimitações.
O que seria um direito do cidadão e um dever do estado está passando para as mãos de empresários milionários que estão se aproveitando de uma alta renda governamental que poderia ser revertida para o próprio sistema.
Hoje vivemos em um sistema sobre trilhos sucateado e com falsas modernizações, além de potencialmente caras e repletas de escândalos políticos.
Falhas, imprudência e em alguns aspectos até negligência das companhias. A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) por exemplo opera com trilhos vencidos e equipamentos que deveriam ser instalados para modernizar as suas dependências, apodrecendo em suas embalagens, sem ao menos terem sido colocados em operação.
Já o Metrô de São Paulo, com trens da década de 70 e 80 reformados e modernizados que custaram muito mais caro do que se tivessem sido comprados trens “0 km” e que constantemente apresentam falhas, atrasando a vida de milhões de passageiros todos os dias.
E isso não é nem a ponta o iceberg.
Com a promessa que as empresas privadas irão manter o sistema em constante modernização, assistência de melhor qualidade ao passageiro, dentre outras, o governo tenta colocar na mente do passageiro que a privatização é a solução.
Em meio a tudo isso, além do marketing que a privatização está proporcionando, os interessados estão se aproveitando de uma fragilidade do próprio sistema que administra: a precarização do sistema.
Em meio ao estado de calamidade que os passageiros enfrentam todos os dias e que inflamam a opinião pública o governo vem adotando subliminarmente a seguinte estratégia: “Precarizar para poder privatizar”.
Ou seja, eu sucateio meu sistema para pensarem que não dou conta e transfiro a minha responsabilidade para empresas de minha confiança e/ou interesse em meio a leilões fajutos e que são encerrados com valores irrisórios ao que foram construídas as linhas.
Mas será mesmo que o governo está interessado somente na melhoria do sistema?
Afinal a privatização está acontecendo indiretamente com o dinheiro do cofre público. As empresas hoje, exemplo do Grupo CCR (que administra as linhas 4-Amarela e 5-Lilás), só assumiu linhas que já foram construídas com dinheiro público e posteriormente vendidas a empresa mencionada.
Mas fica aqui a indagação. Se é para privatizar, as empresas que construam suas linhas e administrem.
Outra arma que os interessados utilizam é a falsa promessa que não haverá mais greve dos metroviários. Será?
Será que essas empresas ou essa empresa (CCR) está de fato preparada para assumir tamanha responsabilidade?
Nos damos o direito de fazer esses questionamentos em vista que na última quarta feira, dia 11 de julho, vazou um áudio de dentro das dependências da companhia onde o Centro de Controle Operacional (CCO) solicita ao operador que ativasse o modo automático do trem, mesmo sabendo que a via estava com pessoas andando sobre ela.
Até onde vai a ganância política? Até onde seremos respeitados pelo governo e pelas empresas privadas? E será mesmo que receberemos o produto que está sendo prometido? Estamos seguros nas mãos dessas empresas que estão se mostrando despreparadas para tamanha responsabilidade?
Enquanto isso, ficamos a sonhar com transporte de qualidade e com preço justo para os nossos bolsos.
parabens!
dificil um texto tao claro e objetivo a respeito da tatica de precarizar para ter o pretexto de privatizar, dentro dos sites blog de mobilidade, onde na grande maioria defendem a privatizaçao.
quem trabalha dentro do sistema sabe que tudo é feito para favorecer empresas privadas, e quanto mais contrato, mais terceirizaçao ou concessao, é mais dinheiro gasto, e na maioria dos casos, com o agravante da piora da qualidade, como é o caso das terceirizaçoes da manutençao da CPTM, onde é um jogo de cartas marcadas e onde as terceirizadas fazem o que bem entendem sem nenhuma puniçao.
O governo construí com dinheiro público, vende a linha por merreca e uma empresa privada opera por 20 ou 30 anos, ganhando ainda mais dinheiro do governo, isso está errado. Sou a favor da privatização sim, porém, desde que a empresa privada construa, compre todos os equipamentos, e só depois opere. Do jeito atual de concessão, a roubalheira corre solta!